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segunda-feira, 18 de julho de 2016

As pessoas perderam seus filtros e eu a minha paciência

Ultimamente tenho usado o Twitter para expressar meu descontentamento com o comportamento alheio, mas 140 caracteres já não mais me satisfazem, então recorro ao meu blog para um não-tão-breve desabafo.

Vamos a alguns fatos que ainda não mencionei neste blog: Em 2014 eu finalmente arrumei um estágio, depois de 1 ano e meio procurando. Estudava de manhã, ia para o estágio a tarde - até aí parece simples, mas deixa eu ser mais clara: eu acordava às 4h30 da manhã, saía às 5h30 para chegar na faculdade a tempo de assistir a aula que começava 7h30. Mais ou menos umas 11h30 saía da faculdade e 1h depois chegava a empresa onde eu trabalhava por 6 ou 7 horas e depois levava mais 2 horas (no mínimo) pra voltar pra casa num trajeto que envolvia esperar um ônibus num ponto escuro e perigoso, pegar trem da CPTM com gente esquisita às 20h30 da noite, pegar metrô e depois mais um ônibus, sem contar a caminhadinha do ponto de ônibus até minha casa que envolvia mais uma rua deserta. Eu ODIAVA essa rotina. Até porque no meio dela havia trabalhos intermináveis da faculdade que eu não conseguia dar conta, alguns dias que as aulas iam até mais tarde e eu não chegava na empresa a tempo de almoçar e passava o dia com um pão de queijo no estômago, mas era o preço que eu preferia pagar a ter que sair bem mais tarde de lá porque o trajeto não era nada amigável. E vou escrever em caps lock para deixar clara a minha indignação com quem acha isso "normal": NÃO É NORMAL SE MATAR PRA ESTUDAR E TRABALHAR AO MESMO TEMPO, NÃO DEVERIA SER ASSIM E SE VOCÊ APOIA ESTE TIPO DE COISA SAIBA QUE VOCÊ ESTÁ EXTREMAMENTE EQUIVOCADO(A).

Nas minhas poucas horas vagas comecei a pesquisar sobre empreendedorismo até que resolvi abrir uma loja virtual. Faltavam apenas 4 meses para o término do meu contrato de estágio e durante esse tempo aconteceram várias mudanças na empresa que não me deixaram com muita vontade de ficar, então acabei optando por não renovar o contrato de estágio. (Já que adoram tirar as coisas de contexto e interpretar texto de forma errada ultimamente, aproveito para deixar claro neste ponto que não tenho nada contra a empresa ou meus colegas de lá, ok? Mas meus objetivos era diferentes do que ofereciam pra mim naquele momento.)

Sabe aquela história de que empreender no Brasil é coisa de gente louca? É mesmo. Ser dono de uma micro empresa é mais loucura ainda. Vou tentar resumir de forma clara os personagens dessa história, claro, me baseando na minha experiência como micro empresária, proprietária de loja virtual:

O pequeno empreendedor: Tem uma ideia e resolve investir nela. Acredita no potencial do seu próprio trabalho e que o que ele tem a oferecer pode ser útil ou legal de alguma forma para as pessoas. Inocente, coitado, acredita que sendo MEI (micro empreendedor individual) terá menos riscos e uma tributação simplificada. Tem pouco dinheiro e procura pensar bem antes de investir em algo.

O governo: No momento em que você consegue o seu CNPJ ele já se apresenta como seu sócio pilantra que só quer sugar o dinheiro que você trabalhou sozinho pra conseguir. Adora mudar as regras do jogo pra complicar a vida do empreendedor e quanto mais burocracia, melhor (pro governo, claro), pois consegue cobrar impostos em duplicidade amparado por leis e licitações que por mais absurdas que sejam, sempre tem alguém pra aprovar.

O cliente: Numa loja virtual, o cliente não tem contato físico com o produtos. Ele compra aquela imagem que você vende. Ele quer o produto, mas não quer pagar o frete. Ele quer o produto, mas às vezes tem preguiça de preencher o próprio endereço. Alguns acreditam que, por estarem na internet podem fazer o que quiserem, por isso fazem o pedido com seu cartão de crédito e, depois de recebido o produto, abrem reclamação na empresa de cartão dizendo que não reconhecem a compra, deixando o lojista no prejuízo (o que deu origem a uma lista de clientes problema). Tem também aqueles que fazem uma compra, emitem o boleto e... não pagam o boleto. Alguns clientes acreditam também que tudo é culpa da loja: o cartão não passou? A loja é ruim; os correios perderam o pacote? Que lixo de loja; Não tava em casa pra atender o carteiro e o objeto não foi entregue? Culpa da loja também.

Os Correios: Prestam um serviço extremamente caro, lento, em alguns estados completamente ineficiente e não se importam em melhorar pois a própria constituição do país assegura o monopólio de seus serviços. Se acontecer qualquer problema com a encomenda, demoram a resolver, quando resolvem e simplesmente não estão nem aí. Produto frágil? Tenha certeza que eles vão tratar com nenhum cuidado.

Os meios de pagamento: A menos que você fature uma boa quantidade de zeros a direita por mês, sua taxa será maior. Ajudam prestando um serviço essencial, mas as taxas são incluídas nos preços dos produtos.

Divulgação: essencial para um negócio na internet. Sem divulgação, sem vendas (também é possível não vender mesmo divulgando).

A família: acreditando meio desacreditadamente que seu negócio dará certo e frequentemente querendo que você arrume "um emprego de verdade".

E não se enganem, não estou reclamando. Amo minha loja até mesmo quando dá problema. Trabalho todos os dias pra atender os clientes da melhor forma possível. O que eu ganho em troca disso? Por enquanto nada.

Vamos, finalmente, após esta introdução detalhada, ao real objetivo deste post. Gostaria de deixar aqui registradas alguns comentários meus que acredito serem necessários e algumas respostas que eu gostaria de dar em algumas situações mas não foi possível.

1. Pelo amor de Deus, LEIAM
Você, que tem preguiça de ler até mesmo um tweet, saiba que está perdendo uma oportunidade única de não passar vergonha. Sim, posso exemplificar: outro dia uma loja famosa de cosméticos que tem lojas espalhadas por todo o território nacional postou uma promoção de batons no facebook. Nos comentários, várias pessoas perguntavam qual o nome da loja para comprar o batom, sendo que a descrição da imagem, de apenas três linhas, dizia que a promoção era válida em qualquer loja da marca.

2. Escreva de forma decifrável e educada
Preste atenção no que está digitando e, só porque você tá na internet, não significa que pode sair atacando os outros de forma grosseira. Além disso, ninguém é obrigado a decifrar o dialeto próprio que algumas pessoas tem nas redes sociais.

3. Se não tem interesse em pagar, não emita um boleto
Este item também é um desabafo pessoal: quando você está numa loja virtual e começa a colocar itens no carrinho apenas por diversão, como sei que muitos fazem, não prossiga para o pagamento, não finalize a compra, não emita um boleto se sua intenção não for pagá-lo para receber os produtos. Quando você faz um pedido aqueles itens ficam reservados pra você até que o pagamento seja realizado. O sistema não tem como adivinhar que você "tava só brincando de comprar". Se aquele item for o único no estoque, enquanto ele fica reservado pra você, outra pessoa que tem real interesse no produto vai deixar de comprar. Você gera prejuízo pra loja e uma inconveniência pra quem quiser realmente comprar na loja. É uma atitude irresponsável, pra dizer o mínimo. Portanto, repito: se não quer ou não pode realmente comprar, apenas feche o carrinho e não prossiga para a finalização do pedido. Muito menos emita um boleto.

4. Empresário explorador é a vovózinha
Me irrita muito ler comentários de pessoas sem noção dizendo que todo padrão é explorador e os empregados são os "pobres coitados" da história. É uma generalização burra, estúpida e sem sentido. Vai estudar mais, pensar mais e você vai descobrir quem realmente te explora. Claro que existem esses casos, mas não são regra. Enquanto não mudarem a mentalidade de que pra trabalhar a pessoa precisa "se matar", isso não vai mudar e vai continuar gerando comentários generalistas sem sentido que não levam em consideração diversos fatores da sociedade e muito menos o outro lado da moeda. Eu tenho minha empresa, trabalho sozinha na minha loja e se tivesse que pagar um funcionário hoje, provavelmente iria a falência.

5. Não, não é porque eu tenho uma empresa que tô "montada na grana"
Pra ter dinheiro, preciso vender meus produtos e pra isso preciso de dinheiro também. É preciso dinheiro para manter e movimentar um negócio, mas isso não significa de jeito nenhum que o dono da empresa seja rico. Inclusive minha conta bancária no momento possui zero reais e zero centavos e eu não faço ideia como vou pagar as contas que vencem depois de amanhã. 

6. Trabalhar em casa pela internet também é trabalho.
Me recuso a me prolongar nessa questão pois já resumi tudo na frase acima de forma simples e direta. Só não entende quem não quer.

Para finalizar, gostaria de falar agora sobre os grupos de venda no facebook. Eu não vou mais anunciar absolutamente nada nesses grupos. As pessoas não lêem, querem exigir que você entregue no metrô e ainda são mau educadas. Isso quando não te chamam de "flor" ou "mana". Me desculpem o palavrão, mas puta que pariu. Eu já fico irritada só de lembrar cada uma que já passei. Flor é pqp, Mana é a pqp também. Aprendam a tratar o outro com respeito. E de onde tiraram que combinar entrega no metrô é melhor que receber o pacote no conforto da sua residência? Eu mesma não vou mais pra SP desde que me formei (graças a Deus) e me recuso a ir praquela cidade, pegar trânsito e pagar muito caro nos transportes públicos pra entregar um bagulho de 10,00 pra uma folgada que não quer receber o negócio pelo correio. Eu gasto 20,00 indo e voltando com ônibus + metrô. Não é viável. A escória da humanidade está nestes grupos de venda no facebook. As pessoas legais e sensatas nunca vem falar comigo, só as sem noção. Será que eu atraio esse tipo de gente?

7. Quando for comprar em grupos do facebook, não seja sem noção.
Não chame a pessoa que você mal conhece de flor, muito menos de mana. Negociem de forma agradável. Se quiser verificar a disponibilidade de uma entrega alternativa, pergunte de forma educada. Ninguém é obrigado a estar 100% disponível para você. E às vezes simplesmente não vale a pena atravessar a cidade. O correio entrega coisas na sua casa, isso não é ruim. Isso é bom. Existem formas de baratear o frete, negocie, sempre mantendo o respeito. Pelo amor de Deus, respeite o próximo. Não seja folgada. Não seja sem noção.